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Arquitetos: Boldarini Arquitetos Associados; Boldarini Arquitetura e Urbanismo
- Área: 15955 m²
- Ano: 2012
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Fotografias:Daniel Ducci
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Favela Nova Jaguaré é uma das ocupações irregulares mais antigas de São Paulo. Registros datam que as primeiras edificações foram construídas no início da década de 1960 sobre terreno destinado à implantação de área verde devido ao parcelamento da gleba promovido pela Companhia Imobiliária Jaguaré.
Tendo em vista sua localização e nível de precariedade da ocupação, a área foi objeto de várias propostas e intervenções por parte do poder público. Em especial a área do Setor 3 passou por dois processos de ocupação irregular, tendo sido o segundo ciclo de construções irregulares edificado sobre obras de contenção realizadas no início da década de 1990, o que acabou por resultar novamente em área desprovida de infraestrutura e em condição de risco iminente de deslizamento.
Neste sentido nossa proposta de intervenção se insere no planejamento das ações de urbanização como ação pontual para qualificação urbano-ambiental desse setor da comunidade, com o objetivo de resgatar o caráter público como premissa básica para o conceito do projeto em uma mudança de paradigma do local, caracterizado por sucessivos processos de ocupação e desconstrução, para uma nova condição de apropriação pública, simbólica, lúdica e aglutinadora.
A compreensão de que as intervenções em áreas críticas da cidade, independente da sua localização, escala e necessidades, devem garantir padrões de urbanização adequados ao reconhecimento e acesso a condições mínimas adequadas à moradia guiou o projeto.
O processo de transformação da área, para garantia das condições planejadas, ocorreu a partir da demolição das edificações em situação de risco, viabilizando a construção de estruturas de estabilização geotécnica, e implementação de sistemas de infraestruturas para drenagem pluvial, redes de esgoto, abastecimento de água.
O projeto foi elaborado interdisciplinarmente conjugando as definições do urbanismo às possibilidades e restrições colocadas pelas diversas engenharias, sempre compreendendo a inserção e articulação com o restante do bairro e suas pré-existências.
Como elemento principal do projeto propomos um eixo de circulação que conecta as cotas superiores e inferiores do bairro superando um desnível de 35m, servindo também para articular os diversos níveis conformados pelos patamares onde estão localizados os equipamentos e espaços para as atividades de esporte, lazer e recreação.
Este eixo é marcado por uma série de dispositivos de circulação, como escadas, rampas e passarelas confeccionadas em estrutura metálica, que exploram de maneira lúdica o percurso permitindo que o pedestre desfrute das visuais do Vale do Rio Pinheiros, Pico do Jaraguá e demais cenários que se descortinam a partir daquele local.
O Centro Comunitário, projetado para abrigar um espaço de informática, abriga em sua cobertura uma praça-mirante em concreto, último nível completamente acessível sem a utilização de escadas. Sua localização é estratégica: além de estar no centro da intervenção e permitir o avanço da laje que conforma a praça seca, suas paredes fazem parte da estrutura de contenção dos taludes.
Acessos secundários foram criados para viabilizar novas possibilidades de percurso e conexão com as Ruas e Vielas do entorno e permitir o acesso a veículos de serviços públicos no miolo da quadra anteriormente obstruída pelas ocupações. Compondo a intervenção urbanística encontram-se os murais de Maurício Adnolfi, que tem como conceito enfatizar os níveis da praça a partir da predominância de cores, partindo do amarelo (relação com a terra), passando pelo verde em níveis intermediários (relação com os jardins) e chegando ao azul (numa referência ao céu), dotando de arte o espaço público.